quarta-feira, 26 de junho de 2013



 


 
           
Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todos os lugares que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido juntos e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e rende pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para tomar um bom vinho, para namorar.

Sofremos não porque somos impacientes conosco mesmo, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando com alguem as nossas mais
profundas angústias e esse alguem nem estivesse interessado em nos compreender.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido pessoas
tão bacana, que gerou em nós sentimentos intensos e que nos fez plenos e nos deu
companhia por um tempo razoável ,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
 
 
Carlos Drumond de Andrade

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